Teimosamente pessimistas

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A última edição do jornal “Expresso” apresenta resultados de uma sondagem feita aos portugueses com mais de 65 anos sobre as suas expectativas para a próxima década. A abordagem teve a ver com a qualidade de vida nos seus aspetos principais. À pergunta “em 2030 Portugal estará melhor ou pior”, em itens variados, respondem os portugueses de forma pouco animadora. Ilustrando, mais impostos (77%), mais desigualdades (66%), mais desertificação (56%) e mais precariedade (54%). Os resultados são menos pessimistas em relação às crianças, que para os interrogados se deverá manter, e na educação, onde poderá haver até uma ligeira melhoria. No tocante à economia portuguesa na relação com os países mais ricos, para 42% dos inquiridos é para piorar. Se a este número de céticos juntarmos os 35% que pensam que tudo ficará igual, são 77% dos auscultados a não ter fé no futuro.

Quase apetecia usar do argumento dos líderes políticos quando as sondagens não lhes são favoráveis, dizendo que “estas valem o que valem”. Mas quem está distanciado de disputas eleitorais e tem a preocupação de informar com dados ou comentar realidades, não pode enredar-se em subterfúgios ou concluir, apenas, que o resultado desta abordagem a testar o estado de espírito dos portugueses deve merecer alguma preocupação. Isto porque qualquer país tem sérias dificuldades em progredir com a esmagadora maioria do seu povo descrente e pouco convencido. 

Muitos dirão que é o fatalismo dos portugueses, não sendo por acaso que o Estado Novo, cinzentão, imobilista e tirânico, resistiu quase meio século e só caiu porque, estupidamente, teimava em manter-se numa guerra que o mundo inteiro considerava como perdida e já para nós olhava de forma pejorativa. Podemos argumentar assim ou com variantes diferentes, que serão até muito iguais, mas isso é iludir questões, é aceitar o vazio e não querer apostar no vindouro.

É verdade que os povos têm características próprias, sendo uns mais unidos, com sentido de responsabilidade e facilmente mobilizáveis para um progresso constante, e outros a praticar o “deixa andar que no fim dá tudo certo”, mas não é menos verdade que é sempre possível mobilizar um povo para grandes causas. O sucesso dos portugueses na diáspora ou, até, de forma mais geral, o nosso sucesso na vacinação anticovid, entre muitos outros, aí está para o demonstrar. Por vezes, particularmente quem governa, alheia-se do que poderíamos ser, teimando em pouco fazer para não o ser.

                GFM

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