Com a ajuda de um meu amigo e conterrâneo, de Vila de Punhe, falecido há alguns anos num acidente de viação, bem perto de sua casa, depois de montar uma antena de televisão, tive o privilégio de conhecer muitas pessoas. Eram amigos dele, não só portugueses, como estrangeiros, pois dispunha de um lugar de chefia na empresa que o empregava.
Já vivia em França há alguns anos antes de eu chegar e passava férias na terra.
Trabalhávamos toda a semana incluindo o sábado.
Depois da faina, no fim de semana, sábado à noite, encontrávamo-nos no baile para dançar: três espanhóis, três portugueses e eu. Sete ao todo.
Os bailes que frequentávamos situavam-se em Paris, junto ao Metro “Cambronne”- Paris, XV bairro – e chamavam-se a “Gaité Bretonne”e “Bolero”.
Para além do sábado, não faltávamos no domingo à tarde e, por vezes, no domingo à noite ao bailarico. Ignoro a existência ainda destes belos e grandes salões de dança.
No entanto, na segunda feira lá estávamos à hora exata, cada um no seu emprego. A isso nunca falhamos, a não ser por doença.
Nesse aspeto, sempre fomos cumpridores dos nossos deveres para com o patronato. Tínhamos responsabilidades familiares, apesar de solteiros, de jovens, pois as nossas famílias em Portugal e em Espanha esperavam todos os meses que lhe enviássemos as mesadas. Era habitual ser assim naquela época.
Os pais precisavam de nós e a nossa ajuda financeira era sempre preciosa. A vida em Portugal e Espanha tornava-se difícil naquele tempo! Num e noutro país imperava a ditadura, para além de uma certa necessidade e escassez de bens de vária ordem em algumas famílias numerosas como as nossas, e até, contrariamente, para uma escapada de férias em cada ano à nossa terra se tornava angustiante e aflitiva.
Passar as fronteiras de comboio ou de automóvel – avião?! Não me lembro de haver ainda itinerários para o Porto na altura. Sei que as viagens se tornavam um quebra-cabeças, sobretudo à entrada em Portugal, com os agentes da P.I.D.E. Até as lembranças que trazíamos para a familiares ou amigos eram muitas vezes confiscadas. Apoderavam-se delas.
Era assim. Assim se passava/passou a nossa juventude naqueles longos anos sessenta em Paris aos fins de semana. Passados este tempos todo recordo os bons momentos de camaradagem, de jovens, de raparigas que conhecemos, das peripécias e brincadeiras inesquecíveis, próprias da juventude que jamais voltarão.