Tributo à mulher

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Iniciamos 2021. Naturalmente, todos aspiramos a que seja suficientemente melhor o ano que se inicia do que o agora terminado. Para tal, basta que nos libertemos desta famigerada pandemia que nos atormenta e nos tolhe a todos os níveis. Mas sobre essa eventual nova realidade o futuro nos esclarecerá.

Uma entrevista à Escritora chilena Isabel Allende (prima de Salvador Allende, Presidente do Chile morto no golpe militar levado a cabo por Pinochet em 1973), publicada na revista do Expresso de 18/12/2020, deu-me o mote para a primeira crónica do ano. Na língua espanhola, Isabel Allende está considerada como a escritora mais lida no mundo. Tem 20 romances publicados e mais de 70 milhões de livros vendidos. Acaba de lançar “Mulheres da Minha Alma”, onde procura dar novo fôlego ao feminismo que sempre advogou.

Desta escritora famosa, que se lê com prazer e nos encanta pela alma que põe nas entrevistas que dá, li apenas “A casa dos espíritos”, um livro que, pela sua grandeza, está recomendado como sugestão de leitura para o Ensino Secundário. Nesta entrevista que deu à jornalista Luciana Leiderfarbarb, Isabel explica porque continua a sua luta pela emancipação das mulheres. Diz-se feminista desde os 5 anos, quando o pai abandonou a mãe com três crianças, sendo ela a mais velha, com três anos apenas. A situação da mãe, sem trabalho, virou suplício, porque, à época, as mulheres praticamente não trabalhavam e uma mulher separada expunha-se a todo o tipo de boatos. Isabel nasceu em 1942.

Partindo da sua experiência, a Escritora desfia um rol de desgraças para a maior parte dos seres femininos. “O mundo inteiro vive num patriarcado, que é um sistema de opressão permanente contra a outra parte da Humanidade”, confessa. Depois justifica a sua asserção com variadíssimos exemplos e chega a afirmar que a mulher, em muitos países, vale menos que gado; onde um pai pode casar uma filha ainda criança ou trocá-la por duas vacas. Sobre o combate a tais situações, diz: “o feminismo começa por erradicar o medo, protegendo a mulher contra a violência sistemática a que está sujeita. Depois, uma mulher tem que ter controle sobre o seu corpo. E tem de ter um salário, porque se depende dos outros, não há feminismo que lhe valha”. Quando lhe é perguntado se são as mulheres fortes que inspiram a sua escrita, diz que sim e que não as inventa, porque não as há fracas.

Isabel Allende criou uma Fundação para proteger as crianças do sexo feminino em muitas partes do mundo, já que são rejeitadas pelos progenitores, só porque são meninas. Quando lemos ou ouvimos esta Escritora chilena, se divulgarmos a sua ação, os seus conceitos e alertas, quase estamos isentos de dissertar sobre a superior importância da mulher na sociedade, até porque muitos o fazem para sossegar a dor que lhes vai na alma.

Um amigo que muito estimo, feminista assumido, se me ler dirá de imediato: mulheres ao poder.

 

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