…Um dia de cada vez (II)

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Ilídio Brásio

Actualmente, ser-me-á permitido recordar este escrito?
Confesso que não me vislumbrava a lançar mão dele tão cedo (uma vez porque muitas vezes me sinto como um pregador no deserto) e nunca o esqueço. Em memória e diálogo transcendente recordamos AURÉLIO BARBOSA e AMADEU COSTA, num sentimento de aplauso ao que descrevemos.


Mestres que nos ensinaram a percorrer os caminhos de feitos e aventuras para o robustecimento de frágeis e imperfeitas cidadanias, pelo que sempre os estamos ouvindo, os consultamos e os seguimos num silêncio misterioso da vida. E eis que o diálogo continua. É assim que a memória é a nossa arma: o nosso escudo; o nosso futuro. E nós já temos saudade desse futuro, mesmo que ele nunca venha a acontecer. Não é uma vergonha para quem — o cidadão — luta pelos seus direitos. A palavra Cidadão foi formada a partir da palavra cidade. Foi Beaumarchais (França do século XVIII) que lhe deu significado político mais conhecido: elemento activo da vida civil e política, gozando dos respectivos direitos. Como instrumento de lembrança, de homenagem, de ritmo, de arte, temos necessariamente que lançar mão da palavra quer escrita ou improvisada, para que nos oiçam, para que nos prestem atenção, para que respondam aos nossos anseios — de todos — para que exista cidadania. Lemos algures que “todo o cidadão tem o direito de exigir e obter as informações que entender do governo, das administrações públicas, das autarquias, das empresas públicas e municipais, precisamente devido à sua condição de cidadão de membro de uma comunidade. Por isso a cidadania é tão importante que não deve ser encarada como um dado adquirido; é um estatuto que pressupõe direitos e deveres recíprocos. Como tal, aquelas entidades funcionam (ou não funcionam) com dinheiros públicos, parece evidente que se qualquer cidadão quer saber, por exemplo, quanto determinada Câmara gastou em assessorias de imagem, em empregos para os amigos ou em obras inúteis mal planeadas e incompreensíveis e possíveis duma explicação após a solicitação através do envio de cartas, e-mails, telefonemas etc., obviamente tem um direito a que lhe seja dada essa informação. Não se trata de matéria que a lei preveja como reservada, sendo que os responsáveis pela gestão dos fundos públicos devem responder em tempo útil, como é sua obrigação de simples cidadão para cidadão, pela forma como gastam o dinheiro de todos. Estamos, assim, a contribuir para melhor cidadania: os cidadãos, porque mais exigentes e atentos; os políticos, porque mais responsáveis. Viver em democracia é isto mesmo” (citei).
Como cidadãos, temos o direito de saber que, por exemplo, a principal razão de existência de uma CÂMARA é valorizar e proporcionar qualidade de vida aos cidadãos; se falhar esse preceito, não tem razão de existir. Servir os outros, é criar e fomentar um espírito de compreensão e de respeito por si próprio, entre os povos. Compreensão que passará, fatalmente, pela verticalidade de processos, pela amizade e conduta do ser humano, pelo respeito mútuo e pela vivência renovadora de uma vida que deve ser vivida um dia de cada vez. Se o ser humano é imperfeito, também o serão os seus conhecimentos e obras, em qualquer esfera da sua actividade.
Os passos, a marcha do ser humano e a sua conduta para com os outros acompanham-no sempre como sombra redutível, apesar de inapagável. Quando se ouve dizer que os responsáveis pelo serviço da administração pública não respeitam as directrizes emanadas do governo, passa a existir um ESTADO – ANEDOTA. E ninguém é incomodado por estas situações. O poder deve respeitar-se a si próprio para merecer o respeito dos cidadãos. Nós não gostaríamos de ver lançado o opróbrio sobre as suas capacidades e competências. Sabemos que a vida pública é ingrata. Publicamente, gente séria é enlameada por diversas personalidades e por diversos serviços, dia após dia.
Este momento marca um mundo conturbado a todos os níveis. E temos pena. Viver é tão bom! Tentemos juntar à nossa volta as pessoas que conseguirem lutar pela defesa do seu bom-nome e da sua honorabilidade.
Vivamos com verdade e respeito! Com dignidade e elevação. Respeitemos os outros com as nossas acções. Ou seja, quando escrevemos uma qualquer carta, façamos de conta que ela nos é dirigida.
Vivamos, pois, UM DIA DE CADA VEZ.

(Fotos de arquivo de “A Aurora do Lima”)

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