UM EMINENTE ECLESIÁSTICO – D. António Ribeiro

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Ricardo de Saavedra, distinto jornalista vianense, com o seu colega de ofício, José António dos Santos, acaba de publicar em 2ª edição, revista e aumentada, nas edições Paulinas, a sua obra intitulada “D. António Ribeiro – Patriarca de Lisboa”.

A 1ª edição desta obra surgiu na Editorial Notícias, por ocasião dos 25 anos de D. António Ribeiro como Patriarca de Lisboa. A 2ª edição vem a propósito dos 50 anos que celebraria como Patriarca de Lisboa, se ainda vivesse. Para os meios eclesiásticos e afins, a personalidade eminente de D. António Ribeiro é de incontestável pertinência, particularmente pelo contexto de profundas transformações sociais, culturais e eclesiásticas em que decorreu a sua vida de sacerdote, de bispo e de cardeal, nascido em 1928 e falecido em 1998.

Ricardo de Saavedra e José António Santos não pretenderam biografar a personalidade de D. António Ribeiro. Num excelente trabalho jornalístico, de primorosa redação, pretenderam, apenas, registar os factos e as características mais marcantes da vida de D. António Ribeiro na função de Patriarca, o seu pensamento, os seus programas de ação, as suas dificuldades, e os resultados da sua ação, no contexto perturbador das décadas de 60/80, do século passado, no interior do mundo eclesiástico, como no mundo político e social do País.

Obedecendo aos intentos jornalísticos, a obra, dividida em cinco partes, tem como núcleo fundamental uma longa e pormenorizada entrevista que os dois jornalistas fizeram ao Patriarca. Antecedendo a entrevista, introduziram uma resenha dos mais destacáveis acontecimentos biográficos de D. António e um conjunto de testemunhos que sobre ele pronunciaram algumas personalidades, como Adriano Moreira, António Sousa Franco, António Guterres, Mário Soares, Xavier Pintado, um seu antigo secretário, António Costa Pires, e o bispo D. Maurílio de Gouveia, aos quais se juntarão depois os testemunhos de Jorge Sampaio e de D. José Policarpo, imediato sucessor de D. António Ribeiro.

Ganham particular interesse alguns factos em que D. António se viu envolvido, como o imbróglio da sua nomeação para bispo da Beira (Moçambique), que Salazar vetou, complicando as relações já difíceis de Salazar com o Papa Paulo VI, as reuniões secretas do Governo com o Arcebispo de Braga, o papel de mediador que exerceu junto do célebre teólogo Hans Küng, a pedido de Paulo VI, aquando de um sínodo em 1971, os encontros discretos com Mário Soares, antes e depois de 1974, o confronto aberto com a PIDE aquando da célebre vigília da Capela do Rato, as relações institucionais com Marcelo Caetano e o duro confronto com este governante, que “quase perdeu a compostura” ante as provas de que mentira publicamente sobre o massacre do povo de Wiriyamu por tropas portuguesas.

A entrevista ao Patriarca é, porém, a parte mais relevante do livro, pela pertinência das questões que os jornalistas se permitiam levantar, com uma propriedade e um rigor de linguagem muito raros em questões eclesiásticas, por parte de jornalistas laicos.

Esta excelente obra jornalística, na sua natureza de objetiva factualidade, retrata-nos um eminente hierarca católico dos nossos conturbados tempos, nas suas funções hierárquicas, em séria fidelidade modelar às estruturas da Igreja Católica, no seu enquadramento institucional e canónico. Por contraste, facilitará a compreensão de outros modelos de institucionalização cristã, mais consentâneos com os critérios evangélicos e as aspirações humanas.

NR

O texto em presença, da responsabilidade de José Veiga Torres, comporta uma análise que subscrevemos na íntegra, dado o conhecimento que temos da obra em causa. Esta, da responsabilidade de dois ilustres jornalistas, um deles colaborador deste jornal, no qual teve comprovada regularidade com as suas crónicas, apresenta-se como um trabalho audacioso, que situa D. António Ribeiro no patamar elevado no contexto da igreja, de que é bem merecedor.

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