Tenho em casa um espelho bem antigo
mas de boa qualidade. Um artigo
que devolve com clareza a realidade.
Mantém-se sempre fiel, eu não,
pois esqueço tudo para viver na ilusão
duvidando e contrariando a sua verdade.
Ele não me cala os ais quando estou a aiar
nem me seca as lágrimas se estou a chorar
continuando peculiar, puro , seguro.
Atura-me firme, é mesmo verdade,
e também tem saudades na minha saudade
e sabe que com a falsidade eu o saturo.
O arcaico espelho tem a minha idade,
e nele desfiei velhice e mocidade
tentando mostrar-lhe ser o que não sou;
mas um dia se aproxima, certamente
vou dizer-lhe: adeus amigo paciente, [finalmente
eu não te minto mais… já me vou!
Eugénio Monteverde