Um novo rumo para o país, um novo rumo para o PS

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Joao Cerqueira

Quem tem a amabilidade de me ler sabe que defendo ideias liberais. Ou seja, considero que a liberdade individual é mais importante do que a igualdade e não gosto que o Estado se intrometa na minha vida. Mas, antes de ser liberal sou português e preocupo-me com o futuro do meu país. Ora o futuro de Portugal não é risonho, pelo contrário. Portugal está estagnado há 25 anos, foi ultrapassado por dez países que eram muito mais pobres e corre o risco de se tornar o país mais miserável da UE. O PIB per capita em 1995 era superior ao de 2018. Há 2 milhões de cidadãos a viver no limiar da pobreza.

Portugal caminha para o abismo.

Entretanto, na Irlanda – país que também teve uma grande crise financeira – o salário médio é 3,241 mil Euros[1] enquanto em Portugal é 1,314 Euros. A Irlanda é um país rico cuja economia não pára de crescer – até durante a pandemia cresceu. Não admira, pois, que tantos portugueses altamente qualificados emigrem para lá. E a que se deve isto? Acaso os irlandeses são melhores do que nós? Não, obviamente! A diferença é que a Irlanda, depois de ter aguentado a dureza da austeridade, não voltou atrás. Baixou os impostos atraindo assim as melhores empresas do mundo como o Facebook, a Google e a Apple, apostou nas pequenas empresas e na sociedade civil e fez reformas importantes na educação. E quanto à igualdade social, a Irlanda ocupa o 10º lugar mundial (enquanto Portugal está no 40º). A Irlanda liberal é assim um exemplo inegável de que o mercado, a competitividade e o mérito são as melhores armas contra a pobreza, para vencer as crises e para gerar qualidade de vida.

Infelizmente, Portugal seguiu na direcção contrária: estatizou-se e perdeu o comboio da globalização – com a agravante de a austeridade nunca ter desaparecido. A carga fiscal é a mais alta de sempre – reflectindo-se no preço dos combustíveis e de todos os bens -, o que dificulta a sobrevivência das pequenas e médias empresas e afugenta as maiores. Porém, a Saúde e a Educação nem mesmo assim melhoraram. Ao mesmo tempo, o défice e dívida pública continuam a aumentar – com o desperdício absurdo de biliões na TAP -, como se não tivessem já havido três bancarrotas exactamente por estas razões. E como cereja em cima do bolo, o país já não é considerado uma democracia plena pela revista The Economist. Deitar a culpa em Angela Merkel ou Passos Coelhos já não convence ninguém, há pois que assumir responsabilidades.

E é aqui que pretendo chegar: o PS – sendo um partido indispensável para Portugal – deveria mudar de rumo. Deveria deixar de governar a curto prazo apenas para conservar o poder, porque hipoteca o futuro dos nossos filhos. Deveria olhar para países como a Irlanda, ou outros que nos ultrapassaram, e encetar as reformas económicas inadiáveis. Porém, para tal precisa de ter a coragem de se libertar do garrote das forças de extrema-esquerda que, em vez da Irlanda, preferem a Venezuela – onde já quase 90% da população passa fome. Não é possível fazer Portugal crescer nem melhorar a vida dos portugueses governando com partidos que são contra a UE, contra o sistema de mercado, contra as empresas e todos os criadores de riqueza.

O resultado está à vista. E quando o BCE, fatalmente, subir as taxas de juros haverá uma nova catástrofe entre os países mais pobres e endividados, como Portugal – cujas vítimas serão de novo as classes média e baixa. Muita gente ficará incapacitada de pagar as suas dívidas ao banco e irá perder outra vez o emprego e a casa.

Seria, pois, fundamental para Portugal que o PS voltasse a ser o partido que defendeu a liberdade contra a extrema-esquerda durante o PREC e levou o país para a UE. O partido que teve grandes pensadores que conceberam um país europeu, rico e desenvolvido. O partido que se aproximou do modelo da Social-democracia nórdica que abraça o capitalismo sem comprometer a justiça social – pois antes de se distribuir a riqueza, é preciso criá-la (em vez de a pedinchar à Europa).

Poderia perder as eleições? Talvez sim, ou talvez não – veja-se o caso de Passos Coelho. O que é certo é que esse novo PS, sozinho ou coligado com partidos que acreditam no sistema económico da UE, poderia realmente reformar Portugal, retirar o país da estagnação e melhorar a vida dos portugueses. Além disso, liquidava a extrema-esquerda e obrigava o PSD a reformar-se também para poder ultrapassar essa fasquia.

Depois de tantas experiências e falhanços, não tenho a menor dúvida de que esta é a única solução para Portugal porque não há nenhum (a) português (a) que não queira ter os salários, ou as reformas, da Irlanda ou da Alemanha. Mas não será por decreto, atacando as empresas ou aumentando o IRS que tal acontecerá – não será perseguindo os ricos e engordando o Estado à custa dos contribuintes. A fórmula mágica da prosperidade dos países para onde emigram os portugueses são as reformas liberais.

Quem terá a coragem de as fazer?

 

[1] https://www.edublin.com.br/salario-minimo-na-irlanda/

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