Uma Igreja que …

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manuel ribeiro

Com enorme satisfação recebi, há dias, a notícia da publicação do chamado Relatório de Portugal referente ao Sínodo 2021/2023, o qual sintetiza as opiniões de católicos portugueses (e não só, mas os que se dispuseram a  responder a um questionário próprio), discernindo, em grupos ou individualmente, sobre “o que se pretende para a Igreja do presente e do futuro, fazendo o levantamento de processos, métodos e meios que nos podem ajudar a passar de uma Igreja exageradamente centrada na autoridade e ação do clero para uma Igreja sinodal e missionária, na comunhão ativa de todos os seus membros”.

Este relatório está disponível, na íntegra, nas páginas web da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), pelo que sugiro veementemente a sua consulta. O relatório, na minha opinião, foi elaborado com muita isenção, com uma autocrítica vigorosa e de elevada coragem, tocando praticamente em todos os assuntos indispensáveis para a renovação da Igreja Católica. Com dez páginas de tamanho A4 (depois da impressão), o Relatório de Portugal, após uma pequena introdução, está dividido em três partes. A saber: I – Processo de Recolha de Informação; II – Apresentação de Resultados; III – Visão da Igreja atual e propostas de mudança. 

Há que sublinhar a importância da parte da “Apresentação de Resultados”, cujo texto, sem qualquer numeração, versa sobre vinte (20) temas (situações/propostas) e não se exime no rigor das palavras, por vezes duras, mas plenamente verdadeiras. Esses vinte temas (não numerados, como acima disse) começam com a frase que dá título a esta crónica: “Uma Igreja que” … ou simplesmente “uma Igreja”. A comissão de recolha e de redação e a Conferência Episcopal estão de parabéns. Mas vejamos alguns trechos ilustrativos do que acabo de referir:

– “Acresce que, nalguns casos, a fraca adesão ao desafio da sinodalidade foi interpretado como uma atitude de resistência, sobretudo por parte do clero, ou de alheamento à dimensão universal abraçada pela Igreja”

– “Uma Igreja espiritual e humanamente pouco inclusiva e acolhedora, discriminando quem não está integrado ou não vive de acordo com a moral cristã, isto é, divorciados, recasados e pessoas com diferentes orientações sexuais” … 

– “Uma Igreja que tem dificuldade em fazer caminho com os jovens”

– “Uma Igreja que tem uma mentalidade retrógrada e desajustada dos tempos em que vivemos”

– “Uma Igreja com uma atitude demasiado hierárquica, clerical, corporativa, pouco transparente, estagnada e resistente à mudança” e “uma Igreja que apresenta uma atitude algo soberba e que se mostra pouco disponível para a escuta”

– “Uma Igreja em declínio social no que respeita à sua reputação e relevância”

– “Uma Igreja pouco disponível para discutir de forma aberta e descomplexada a possibilidade de tornar opcional o celibato dos sacerdotes e a ordenação de homens casados e das mulheres”

– “Uma Igreja que não considera as mulheres em igualdade com os homens na missão, sendo ambos batizados e, portanto, discípulos”

– “Uma Igreja que não fomenta os níveis aceitáveis de formação dos vários agentes pastorais” e uma Igreja cujos “ministros ordenados não têm formação adequada para responder a questões emergentes”

– Uma Igreja onde os processos de tomada de decisão e escolha de lideranças é pouco transparente e inclusivo, restringindo a Igreja ao corpo composto pelo sacerdote e os leigos” … um corpo “demasiado elitista”

– “Uma Igreja que não se adapta aos ritmos e às exigências da família de hoje” e “que tem na sua principal expressão pastoral – a catequese – vícios e desencontros que inviabilizam a evangelização”.

O que acima se cita são transcrições literais (obviamente que não completas) do Relatório de Portugal. 

Não fazemos hoje outros comentários ao texto.

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