Em 1996 negociei uma “loja de regionais” pertencente a um senhor chamado Cruz, frente ao jardim público e fazendo gaveto com a rua Gago Coutinho, em Viana do Castelo.
Era uma loja praticamente em ruínas devido à estrutura do prédio, em pedra, degradado, e semi-abandonado na sua decoração. Procedi ao restauro da mesma, fazendo um novo projeto, de modo a dar-lhe mais alma e configuração. Hoje é pertença de outro proprietário e foi reintegrado na sua totalidade.
Tinha como finalidade a venda de toalhas e lenços regionais, bonecos de barro, palmitos e muitos outros artigos locais e da região. Fui obrigado a contactar bordadeiras, fornecedores de bonecos em barro, tais como: os famosos “Baraças”, “a Sapateiro”, “a Júlia Ramalho”, o “Mistério” e outros, todos da zona de Sta. Maria de Galegos, Barcelos.
Excelentes artistas a modelarem o barro, com uma habilidade invulgar muito conhecida em Portugal e no Mundo. Estão quase sempre presentes em feiras nacionais e internacionais com o seu valioso trabalho. Excelentes artesãos, sem mãos a medir.
Tivemos várias funcionárias durante quase oito anos e aos fins de semana, era eu e minha esposa que mantínhamos a loja aberta.
Foi nesse período de tempo, que nas horas vagas me dediquei a aprender a tocar concertina. Dedilhava-a na loja e em casa até atingir alguma perfeição, tudo sobre orientação de Augusto Canário. Primeiro, em V. N. Anha e, posteriormente, com o Zé Manel Neves, em Perre, também um excelente tocador, com destaque para o primeiro. Tinha como finalidade uma ocupação pós reforma, com o aproveitamento do tempo de lazer e o prazer pelas aulas de música. Inexistentes na minha juventude.
Nessas lições tive o prazer de conhecer outros tocadores e, mais tarde, relacionar-me, e, tornarmo-nos bons amigos. Ainda hoje nos encontramos para juntos confraternizarmos. Criamos uma empatia muito salutar que é de realçar entre médicos, professores, advogados, agricultores, etc.
Somos já uma representação bastante grande e espalhada por várias aldeias deste concelho.
Esporadicamente, somos chamados a tocar em conjunto. Um convívio salutar que permite uma confraternização sadia entre gente de todas as idades e profissões. É mais uma componente que permanece das crónicas biográficas que venho contabilizando neste semanário. Outra faceta da vida.