O espaço, por limitado, não nos deixa ser mais avançados em documento de tão grande interesse. Por vezes temos que parar onde é menos indicado. Por isso, hoje voltamos ao texto transcrevendo parte do último parágrafo, que nos fala do transporte a cavalo em Viana. Artur Maciel bem merece, pela forma bonita como descreve a Viana compreendida no tempo de 1855/1955.
Assim lhes recomenda que, na picota, ao nº 14, João das Neves, tem agora o seu estabelecimento de estafeta antigo, com filial na Praça de Carlos Alberto, no Porto. A comunicação diz-nos que o filho, Sebastião, apartara-se do serviço de correio a cavalo. O velho João das Neves, retomou, por conseguinte, as suas carreiras. Para o Porto sai às segundas, estando de volta nas quintas. Para Valença e Monção, parte às sextas e regressa dali aos Domingos. Para inteiro governo de todos, saiba-se ainda que tem liteiras e cavalgaduras para cela e carga, às quais aluga, ele o afirma, a preços cómodos. A julgar pelo anúncio, tudo é servido com esmero e fidelidade.
Este filho Sebastião, que abandona o persistente trote em que o pai teima em prosseguir, adivinha o reinado da diligência. É hercúleo de corpo e torna-se gigantesco na envergadura da sua atividade. As suas carreiras vão alastrar por toda a província, atingindo Vila Real. Enriquece fabulosamente e fica conhecida pelo rei da aviação de entre Douro e Minho.
Por muito ousado que se afigure, não hesito em equiparar o vianense Sebastião da Silva Neves, quanto ao juízo que ambos formaram da instituição da mala-posta, a um alemão, que apenas se chamou Goeth. O autor do “Fausto”, quando soube que, mercê das diligências se demorava algumas horas menos entre Weimar e Berlim, associou o facto à conquista da Europa por napoleão, e preconizou que o mundo entrava numa nova Idade. Embora com certo atraso, Sebastião das Neves, ao ver-se senhor dos cavalos sem conta, suponho que tenha repetido a frase célebre da duquesa de Boguie: “o homem venceu o espaço”.
E ainda eu repito que ontem como hoje, nada há de novo sob o sol!…
Não recomeçou há poucos anos o fabrico da cerâmica de Viana? Pois quando apareceu a “Aurora do Lima”, fechava as suas portas a fábrica de Louça do cais novo alimentada pelo barro de Alvarães e com moinho para o vidro a funcionar na quinta das Arcas, ao rio da Pompeira, à Meadela. Iam decorridos 81 anos de rivalidade com a fábrica do Rato: a produzir a cerâmica de que se rechearam as casas abastadas da região, nessa graça das suas linhas, nessa cor mate do vidrado, que lhe vinha do estanho, e recordava aos caolinos anilados das louças do Japão. José da Cruz, derradeiro mestre, que Viana conhecia pela José da Fábrica, e os seus oleiros, cairiam nesse ano no desemprego, se não fora a oficina de Vilar dos Mouros logo a recebê-los…
Em 1855, elucida-nos logo ao aparecer a nossa “Aurora”, já se cobrava um imposto para as obras do porto. Existia em cofre a importância soma de 13 contos, mas nada se fazia. Uma draga que mais tarde trouxeram acabou por morrer de ferrugem…
Saíam da barra iates como o S. Pedro e o Novo Paquete, com milho e miudezas para o sul. A escuna Vitória e o patacho Imperatriz largavam com cereais, para Cork. O caíque de guerra Destemido cruzava a costa.
Eram veleiros ingleses que traziam o bacalhau da Terra Nova. O negócio, para o Minho e Trás-os-Montes estava na posse de duas firmas britânicas. Mandava-se laranja, mal acondicionada, para a loira Albion. Também Lisboa recebia algum vinho verde e madeira de pinho serrada.
Continua