Uma visita à Praça de Touros

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Joaquim Terroso diz que bem tentou trazer alguém com ele para nos acompanhar, mas que de todo não lhe foi possível. “A esposa Belmira ficou a tratar do almoço e o neto Constantino foi passear com a sua Joana. “Ora, quer o moço lá saber de passeios com gente que só gosta de falar do passado”. – Deixe lá que um dia ele vai gostar destas coisas da história e, tal como o Senhor, não lhe vai ficar atrás a amar Viana. Então, se o namorico resultar em namoro a sério, o seu enraizamento à nossa cidade vai ser total. O tempo é precioso para nos amadurecer, nos dar outras visões da vida e trazer até nós ideias novas. O melhor do nosso tempo é aquele em que estamos preparados para fazer boas reflexões. Dê tempo ao tempo Caro Terroso. Só verá o quanto os netos gostam de si, o apreciam e compreendem, quando eles tiverem a vida constituída e suficientemente organizada. 

– Gostei muito de vos ouvir. Estas considerações acerca das gentes e da forma de estar e pensar vão permitir-me alguma reflexão. Voltemos ao ponto de partida da semana passada, quando, por cansaço meu “aportamos” no Girassol. Façamos hoje o passeio que antes tínhamos previsto e não o conseguimos. Caminhemos até à Praça de Touros. “Agora já deixou de o ser”, dissemos-lhe. – Agora está a tornar-se em equipamento desportivo, para que a juventude possa dele tirar proveito em benefício do físico. Um lugar para dar vida e não tirar a vida a ninguém, mesmo tratando-se de animais.

O nosso Joaquim, olhou-nos de soslaio e acenou negativamente com a cabeça. – Então os meus amigos viraram protetores dos animais?! – Agora discordo de vós. Afinal o tempo nem sempre areja a mente das pessoas. – Ora, amigo Joaquim, que prazer lhe dá estar a assistir a um espetáculo onde os animais são maltratados? Nada disso, meus amigos, uma Praça de Touros não é um matadouro, mas sim um espaço de arte, onde homem e animal se digladiam, com a sua esperteza, destreza e elegância. Temem-se um ao outro, mas são combativos e tentam, cada um, sair vencedor no combate no qual são protagonistas.

– Bom, já vi que nesta matéria não nos entendemos. – Pois, não podemos entendermo-nos em tudo. A forma de pensar, em variadíssimas questões, pode não ser coincidente. E até é salutar. “Sim, sim, caminhemos então, para que possa apreciar essa obra de arte onde os moços irão aperfeiçoar o físico para se mostrarem às raparigas em tempo de praia” diz-nos Terroso, entre o sorriso simpático e o trocista. 

– Mas não me levem a mal. Comecei a gostar de touradas ainda menino. Pela mão de meu pai Justino, ainda assisti a algumas no redondel no Campo d’Agonia, mesmo em frente à capela. De uma, agosto de 1939, tenho aqui uma foto que gostava fosse publicada no nosso Aurora. Nela estou eu, mas não vos digo quem sou. Desconfiamos que Terroso, bem garoto, de todo visível, está entre a assistência vestido a rigor com a farda da Mocidade Portuguesa, daí não se querer dar a conhecer. Passamos à frente.  – Este redondel onde fui fotografado foi o último dos três localizados no Campo d’Agonia. Depois, em 1949, aqui se construiu esta bela Praça. Para a época, uma obra d’arte. Imponente e sólida, nem um terramoto de boa escala a faria ruir. Também tenho imagens da sua construção. Assim como tenho cartazes da primeira corrida aqui realizada e na qual fui espectador, mas desta não tenho imagens.

– Já agora, deixem que vos diga que para a praça do Campo d’Agonia o gado toureado era transportado por comboio. Para o efeito, utilizava-se o ramal que ia da estação à doca, inaugurado em 20 de março de 1924. Assim se evitava que os touros circulassem na via pública. Depois, com a construção desta neste local, a Argaçosa, tudo se tornou mais seguro, porque cada coisa no seu espaço. Ora, neste descampado, uma praça de toureio, assentava que nem uma luva. Bom aqui já havia algum movimento. Havia as Azenhas do Prior e até pequenos estaleiros. Sim, mas disso poderemos falar para a semana, porque são horas de almoço. Já agora, não se esqueçam que brevemente estarei preparado para caminharmos até Santa Luzia. Aquela paisagem maravilhosa não me sai da mente.

– Teremos tempo para tudo, Caro Joaquim, mas Dona Belmira já deve ter o almoço pronto e não a deve fazer esperar. Para a semana vai-nos falar do que aqui havia para além desta praça, que bela será como equipamento desportivo.

– Sim, sim, terei muito gosto. Até à semana, então.

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