Valha-nos Santa Engrácia! Ó Homem, desce à Terra e vem ver!

Defensor Moura
Defensor Moura

A última página do nosso semanário voltou a desinquietar-me com mais uma tentativa de reescrita da história recente de Viana do Castelo, protagonizada pelo articulista Branco Morais, que mais uma vez me obriga a deixar por uns minutos a escrita dos meus livros. E faço-o para recordação dos vianenses que viveram os factos e informação aos que só os conheceram feitos e acabados. Diz o meu antecessor na autarquia que “entre 1990 e 1994 a cidade e o concelho desenvolveram-se, como todos os indicadores o atestam …, mas apenas quatro anos foram insuficientes para transformar Viana em cidade média e o concelho ter cerca de 100 mil habitantes… e, hoje, infelizmente, estão mais longe, do que há trinta nos, de atingir os objetivos ambicionados”. Entre outras generalidades o articulista lamenta que “os nossos melhores filhos emigrem”, donde se conclui que considera que os que cá ficaram são os piores. Cada um lá sabe a que grupo pertence (!), mas não vou perder espaço do jornal com balelas e vou apenas enumerar algumas das coisas que não havia em Viana do Castelo em 3 de janeiro de 1994 (data em que rendi o articulista na autarquia).

Não existiam as Zonas Empresariais de Lanheses, da Meadela e da Praia Norte (incluindo a Enercon) e a Zona do Neiva era um quarto da que lá está atualmente, com muitas dezenas de novas fábricas e outras unidades empresariais e, também não existiam a área empresarial de Darque e as várias grandes superfícies comerciais (só havia o Continente), que aumentaram significativamente a atividade económica e criaram muitos milhares de empregos em Viana do Castelo sem que, apesar das contínuas queixas, houvesse redução do comércio tradicional que se modernizou e rejuvenesceu. Não existia o Hotel Flor de Sal, nem o Hotel Axis, nem o Hospital Particular, nem o Interface de Transportes (havia uma central de camionagem pior do que a de algumas vilórias), nem o Museu do Traje, nem o Gil Eannes (estava na sucata), nem a Biblioteca, nem o Coliseu, nem a Praça da Liberdade (era uma areal cheio de carros estacionados a esmo, tal como acontecia  no Campo da Agonia!), nem a Praça da Abelheira, nem a Pousada da Juventude, nem o Parque Ecológico Urbano e a, atualmente em construção, Urbanização Polis na Argaçosa que era um terreno com armazéns velhos e abandonados, o Castelo de Santiago da Barra estava cercado de ferrugentos depósitos e a antiga doca estava cercada de grades e armazéns abandonados, como o gigantesco pavilhão da Portucel que bloqueava a vista para o rio, o Elevador para Santa Luzia estava a apodrecer e quase sempre parado, e não existiam 232 novas casas municipais para os mais carenciados, etc, etc.

Não havia A28, nem A27, nem IC28 (demorando-se o dobro do tempo a chegar ao Porto ou aos Arcos) nem havia parques de estacionamento subterrâneos (mais de 3.000 lugares) onde estacionam milhares de automóveis todos os dias (os críticos onde os estacionariam sem eles?).

E havia 30 passagens de nível com a linha férrea, onde o comboio ceifava regularmente muitos vianenses, e que tivemos o gosto de as encerrar todas, substituindo-as por tuneis e pontes. Tal como fizemos os tuneis do Hospital e do Seminário onde, imagine-se, em 1993, o articulista tinha instalado uns semáforos para travar o trânsito (demorava-se mais de ¼ de hora para sair do Hospital ou da Urbanização de Monserrate). Nem preciso de referir o enorme desenvolvimento das freguesias, das redes de saneamento e abastecimento de água, do parque escolar, do parque desportivo, da explosão das atividades culturais, nem do múltiplo investimento privado, nem … nem…, mas estou preparado para isso se for preciso. 

Termino recordando apenas que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, na primeira publicação depois de eu entrar na autarquia o Poder de Compra dos Vianenses era 73% da média nacional (menos do que têm hoje Caminha, Cerveira e Valença) e na primeira depois de eu sair era 93%. Mais palavras para quê?  O articulista lamenta ter tido apenas 4 anos para transformar Viana. Ainda bem, deveria ter ficado apenas 1 ou dois anos, para Viana do Castelo não continuar adormecida, como tinha acontecido durante os quatro mandatos anteriores do seu partido. Em relação a Braga, Matosinhos, Vila do Conde, Guimarães, por exemplo, a nossa cidade chegou com quase vinte anos de atraso, ao surto de desenvolvimento aberto pela revolução de Abril! Porque sou democrata, nunca direi “Por qué no te callas?”, como o rei Juan Carlos fez a Hugo Chávez, mas convido o meu estimado antecessor a descer das nuvens e vir apreciar o que se transformou em Viana do Castelo desde 1993. Está uma bela e progressiva cidade, acredita. Só os velhos do Restelo não veem.

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