Tudo indica que o país vai de novo a eleições. Não eram esperadas e, provavelmente, poucos portugueses as desejariam, já que a delicada situação do país, por demais conhecida, não as aconselham. Mas, se por um lado tem sentido criticar as forças políticas por não se entenderem em relação à aprovação do Orçamento do Estado para 2022, também não é menos verdade que em democracia os não consensos e o recurso a eleições têm pleno enquadramento. E se o próximo ato eleitoral, a verificar-se, for clarificador na criação de sólidas condições de governação do país, até poderemos considerar que é bem-vindo.
Diariamente ouvimos as mais díspares opiniões dos mais ou menos destacados comentadores políticos, em boa medida prognosticando o pior para o país. Ninguém tem dúvidas de que não estamos bem; que temos uma dívida assustadora; que não dispomos de uma produtividade satisfatória, que nos permita sair facilmente deste enredo; que temos elevados índices de pobreza; e muitas outras delicadas questões por resolver. Ora, com um quadro tão pouco animador, mesmo admitindo que dispomos de avultadas quantias de dinheiro vindas da Europa para investir no desenvolvimento do país, há razões para ter preocupações.
E as inquietações assentam-nos bem e mostram maturidade da nossa parte, justificando até firmeza com quem não se entende para criar as condições próprias, que catapultem Portugal para mais elevados níveis de progresso, de onde poderá advir mais riqueza para distribuir. Contudo, as democracias não se podem apresentar como corpos frágeis, prontos a claudicar à menor crise. E quem dá fragilidade ou maturidade e segurança à democracia é o povo. Daí que neste momento, como em tantos outros que já vivemos, e ainda haveremos de viver, é o povo quem mais ordena.
Podemos ouvir todos, comentadores, políticos e especialistas das mais diversas matérias, mas quem vai decidir em última instância somos nós, com a nossa intervenção pública, sem abdicar do direito de cidadania que nos assiste, e por fim com o nosso voto no ato eleitoral.
Não vale a pena descrer na democracia, apodar de interesseiros todos os que de forma geral nos governam, nem pensar sequer que as soluções vêm de contextos marginais ao estado de direito. Se assim julgamos, estamos no caminho errado para ultrapassar os nossos problemas e no caminho certo para os agravar. Só num estado plural, combinados com os amantes da liberdade, seremos bem-sucedidos. Sejamos então adultos, firmes e conscientes, com a segura convicção de que os estados democráticos são para engrandecer e solidificar e nunca para enfraquecer.
GFM