VENTOS DA HISTÓRIA

Picture of A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Há quem venha reclamando uma “política patriótica de esquerda”, como se tal fosse o antídoto para os problemas da situação social e económica do país. Não vejo muito bem onde está o traço de união de patriótico e de esquerda, sendo certo que aquilo que é um sentimento patriótico até tem pouco a ver com as esquerdas, mais empenhadas em controlar, quer a mente humana, quer os meios de produção relevantes da iniciativa dos privados. E isto porque o livre empreendedorismo –  individual ou do mundo empresarial –  é abafado por um desejado Estado-papão (não digo patrão) que nada tem a ver com patriotismo. Regozijo-me, assim, com o facto de a realidade nacional ir resistindo aos ventos estalinistas e marxistas que os “patriotas” das esquerdas se esforçam por implementar.

Entendo que ser patriota é amar a Pátria, estando implícito amá-la com todos os seus defeitos e virtudes, desde a sua fundação, no seu crescimento e na sua afirmação perante o mundo. E Portugal é aquela Pátria, a minha Pátria, que eu respeito com toda a sua História, com todos os seus heróis conhecidos, ou outros mal-amados, e com o povo anónimo não menos heróico.

O apagamento dos símbolos da História nacional deveria se criminalizado, porque é o mesmo que desmembrar o corpo da Pátria dos elementos que a enformam e que nos recordam as etapas do seu crescimento. Cada época teve coisas boas e outras menos boas, mas o patriotismo sempre se manifestou nas muitas lutas e epopeias, aquém e além-mar.

No decurso das mais de quatro décadas desta nossa democracia tem-se verificado o surgimento de alegados “patriotas” que proclamam uma doutrina de reduzir a cinzas elementos importantes da memória nacional, como os casos que referi no meu último artigo deste jornal (edição de 18.03.2021). Mas há mais e destaco, sobretudo, pela sua importância estratégica, a ponte sobre o Rio Tejo, em Lisboa, baptizada de “Ponte Salazar” em homenagem ao seu mentor, mas que aludidos “patriotas” sem escrúpulos rebaptizaram de “Ponte 25 de Abril”.

Sejamos, pelo menos, intelectualmente honestos com a História! Que ligação tem o 25 de Abril à ponte Salazar, para que os alegados “patriotas” tenham tido a ousadia de lhe alterar o nome? A ponte é uma obra notável do regime político anterior, que a concebeu, que a construiu, que a financiou e que Salazar, numa visão altamente estratégica, exigiu que a sua estrutura ficasse dimensionada para acolher uma linha de caminho de ferro. Salazar foi, sem dúvida, o grande obreiro e o grande impulsionador desta obra de arte, merecendo, com toda a justiça, que o seu nome lhe fique ligado de forma indelével, queiram ou não os “patriotas”. Não se pode roubar descaradamente a autoria de uma obra, só porque não se gosta do seu criador. E é pelo respeito que me merecem tanto os vultos como os símbolos da História da nossa Pátria que eu continuo a chamar-lhe ponte Salazar. E este é o ponto para anatemizar todos aqueles que, com a maior das facilidades, embarcaram neste roubo e nesta demagogia.

Salazar foi um político que governou Portugal durante cerca de quatro décadas, a que muitos alegados “patriotas” das esquerdas só associam desgraças. Claro que, dentro daquele princípio de que só Deus é perfeito, a governação de Salazar teve altos e baixos, como actualmente, aliás, mas isso não pode ser condenável. Acredito que deu o seu melhor pelo país e pela Nação, considerando os padrões políticos da época em que viveu e governou o país. Mesmo no que respeita à segurança do Estado, não terá feito muito diferente do que outros países faziam, mas nunca caindo nos extremismos de Lenine, Estaline, Hitler, etc, ou não será verdade?  Os saudosistas do estalinismo não gostam que se fale desta matéria, mas aconselho-os a ouvir e a serem ponderados em vez do radicalismo que proclamam contra este político visionário que, não sendo perfeito, soube conduzir o país em momentos tão difíceis.

Dentro desta verdade –  e para sermos justos com o governante Salazar e para com a História do país -, deveríamos todos ficar gratos em relação à sua política diplomática, pelo facto de Portugal não ter sido envolvido na Segunda Grande Guerra Mundial, mantendo-se neutral no conflito, quando à sua volta só havia destruição e caos. Não terá sido uma acção política de génio no panorama bélico que se vivia? Argumentem os alegados “patriotas” o que quiserem, mas nunca conseguirão destruir esta verdade inatacável. E tenham a humildade de lhe reconhecer o mérito de verdadeiro estadista e de patriota, não apagando o seu legado.

Assumo que tenho tanto respeito por Salazar como por outros estadistas e militares desta nossa democracia, que souberam lutar contra o totalitarismo que alegados “patriotas” de esquerda pretenderam a todo custo impor no país. Refiro-me, não aos que por razões carreiristas originaram o 25 de Abril, mas àqueles verdadeiros democratas que fizeram o 25 de Novembro de 1975, conseguindo conter o totalitarismo estalinista e fazer respeitar a democracia. Mas destes verdadeiros patriotas pouco se fala, porque não convém!… É melhor enganar os incautos com os mitos que foram sendo criados!…

A maioria dos políticos no activo não vivenciou as agruras da nossa História das últimas sete ou oito décadas, e por isso alimenta-se tanto de uma certa mitologia, como de teorias que lhes inculcaram nas universidades, onde alegados “patriotas” de esquerda se instalaram para controlar o ensino e distorcerem a verdade, sendo certo que tiveram algum sucesso a julgar por variados actores do panorama político e cultural

Não se julguem, porém, donos da verdade, nem controladores do pensamento, porque as suas teorias valem menos do que as águas do Rio Lima que passam sob a ponte Eiffel de Viana do Castelo a caminho do mar. E só abraça a cegueira quem quer! Ser patriota é respeitar a História e Salazar sempre fará parte dela.

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.