Tenho a certeza que grande parte de nós já ouviu falar deste jogo e, por muito que o tempo passe, ainda lhe tem algum receio. Em algum momento da nossa vida sentimos a necessidade de o explorar com os nossos amigos, uns em idades mais jovens e outros que ainda o fazem.
Curiosamente chamo-lhe “jogo”, não porque é “jogável”, mas porque esconde a essência do próprio jogo: torna-se, por fim, num jogo de mentiras.
O ser humano gosta de mentiras, possivelmente porque são confortáveis e fáceis, e têm a capacidade de se ajustar de forma perfeita às medidas do nosso corpo. Assim como um alfaiate nos desenha um fato, também nós desenhamos as nossas mentiras de acordo com o que nos convém.
Porém, a verdade não se ajusta. Ela simplesmente é. Quer goste, quer não, quer sirva, quer não, ela está lá, e não há muito que possa fazer para lhe contornar os cantos.
Tentamos, de mil e uma formas, enganar a própria verdade, convencidos que conseguimos desafiar o impossível. Contudo, acabamos sempre de frente a um muro, porque a verdade não cabe na mentira. E enquanto a mentira nos serve, a verdade é contra. Enquanto a mentira se ajusta, a verdade obriga-nos a mudar. E a única solução que nos resta quando preferimos não a ver, assim como no jogo, é sofrer as consequências.
De alguma forma, ensinaram-nos a não falar a verdade. Sempre ouvi dizer “não digas a verdade, poderás ofender”. Mas será mesmo esse o objetivo? Ofender? Ou será escapar à realidade do ser?
Em todos os lugares há mentiras. Cada país possui a sua mentira. Cada raça possui a sua mentira, cada religião, cada família. Talvez por isso seja que cada vez que alguém fala a verdade, passe a ser a figura-alvo da condenação. Chegou onde não devia, alcançou aquilo que deveria estar escondido, desenterrou aquilo que estava na profundidade. E, neste ponto, só nos restam duas possibilidades: ou condenamos o outro à guilhotina, ou estamos preparados para derrubar a torre dos segredos. Um dos caminhos revela cobardia, o outro, bravura. Por onde irá, a mim não me cabe saber.
Seja qual for o caminho que decida percorrer, pare e observe-se, enquanto se questiona sobre a sua verdade: qual o tamanho das minhas mentiras, e já agora, com quantas vivo?