O tema da virgindade pode ser observado por três prismas distintos: a biologia, a teologia e a história. Claro que a primazia pertence à biologia, a ciência que trata da vida (bio) terrena, a única que conhecemos e que é, também, o local onde as manifestações físicas ocorrem. E quem diz biologia diz fisiologia, diz medicina. Todos nós (homens e mulheres) nascemos virgens. Embora a virgindade, comumente, diga mais respeito às mulheres, ou fêmeas, os homens, ou machos, também têm a marca da virgindade e da perda da mesma. As mulheres apresentam uma membrana na entrada da vagina – o chamado hímen – cujo rompimento (nem sempre de uma só vez) exige a penetração de um objeto sólido, que é, por natureza, um pénis. Quanto aos homens, outro rompimento se verifica, neste caso, o corte do chamado “freio”, ou seja, uma pele (ou espécie de membrana) que liga o prepúcio à extremidade inferior da base do pénis. O prepúcio é a pele (muitas vezes exagerada em tamanho) que, no estado flácido do pénis, envolve totalmente a glande (ou “cabeça”), dificultando a exposição, livre e total, desse órgão sexual penetrante. Esse facto pode ocorrer, mas dolorosamente para o homem, com o primeiro ato sexual completo, ou artificialmente, antes do ato sexual, e normalmente em bebé, com uma intervenção cirúrgica, ritual e artesanal, chamada circuncisão (cortar ao redor). Na atualidade, nessa intervenção, também feita por motivos higiénicos e não só litúrgicos (caso do judaísmo), é usada a anestesia local, e todo o processo sanitário de uma intervenção cirúrgica. É o caso de qualquer jovem ou homem adulto que, por conselho médico, se sujeita a essa cirurgia. Diga-se que, no caso dos primitivos judeus, se tratava de um ato doloroso, pois era feito sem qualquer anestesia. Será ainda assim?
O outro modo de analisar a virgindade é a teologia, ou seja, o conhecimento de Deus (Theós). E quem diz teologia, diz religião, diz fé, diz crença muitas vezes radical, diz catolicismo (e outras religiões, como o Islão e o Judaísmo), diz dogma, diz infalibilidade conciliar ou papal. Desde há uns séculos para cá – muito poucos séculos é de salientar – o conhecimento foi aumentando e aquilo que na antiguidade – não muito antiga, frisemos – era tratado pela religião, pela Lei estabelecida por Deus, segundo os tais teólogos, passou a ser estudado e provado por várias ciências físicas, exatas e experimentais. A tal biologia, por exemplo. Concretamente, portanto, a dita virgindade, ou a inexistência dela, diz respeito, antes de tudo, à biologia, à fisiologia, à medicina. De resto, também a sexualidade e o seu fortíssimo desejo de criação de um novo ser, a conceção, a gestação, o parto, a amamentação, dizem respeito, na atualidade, à ciência médica, em primeiríssimo lugar.
E, finalmente, o terceiro prisma: a História (ver na próxima crónica com o mesmo título desta).