Votar é um ato de inteligência

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Gonçalo Fagundes Meira

Alguns amigos, conhecendo a minha longa intervenção cívica e sabendo do apego que tenho a uma sociedade democrática suficientemente participada, desafiaram-me a escrever breves notas sobre o ato eleitoral que vamos ter a 06 de outubro. Aceitei o desafio porque penso que quanto mais debate fizermos à volta das questões que regem a sociedade melhor vivência teremos. Até lá disporei de quatro oportunidades para manifestar sentimentos e procurar, apenas e só, levantar questões, deixando pistas para debate e reflexão.

Começo pelo ato de votar por considerar que as eleições serão tanto mais dignas quanto maior participação houver da parte dos eleitores. Assim sendo, com a nossa abstenção, o que poderemos ter são consultas populares que exigem bem pouco de quem é eleito para nos representar. Os eleitos do povo sentirão responsabilidades acrescidas sabendo que os seus concidadãos depositaram em si a confiança suficiente para lhe imporem trabalho aturado, generosidade e apego ao exercício da função. Se, pelo contrário, nos desinteressarmos e nos abstivermos, estamos a facilitar a vida a quem encarou a sua eleição como expediente para melhorar a sua condição socioeconómica.

Os últimos dias, por outro lado, têm-nos proporcionado oportunidades suficientes para sabermos quanto vale a participação das pessoas na vida política e como podemos abrir novas alamedas para melhorar o mundo, não só com a eleição segura de quem elegemos, mas não abdicando, por outro lado, de todos os direitos cívicos que nos proporcionam as sociedades democráticas. Os casos verificados recentemente no Reino Unido e em Itália, com a derrota de Boris Johnson e Salvini, respetivamente, demonstram bem como se pode limitar em democracia ambições de políticos nada escrupulosos com os interesses do país que representam. Citando o editorial do Expresso da última semana, valorizemos a resposta da escritora canadense Margaret Atwood a jovens leitores que queriam saber como se pode salvar o mundo e a que ela respondeu: ”Votem enquanto puderem”.

Recorrendo à metáfora, concluiremos que não votar é chutar a bola para fora do campo e, sem bola para jogar, permitir que outros nos arrastem para fora do retângulo de jogo. Ora, sem poder entrar no jogo, já estivemos nos 48 anos do Estado Novo. Agora é tempo de participar, de escolher bem, de exigir e de pedir contas. Agora é tempo de sermos cidadãos plenos para ajudarmos a construir para os vindouros uma sociedade bem mais justa que a que herdamos. Agora é tempo de votar.
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