Vozes que contam… Histórias que se ouvem…

Vitor Fernandes
Vitor Fernandes

Visualizei através das redes sociais um torneio de “Futebol de Salão”, e não é que me reencontro com o passado?! Repleto e “apinhado” de gente da terra que assistia ao jogo com emoção e alegria, numa partilha de sentimentos que me obrigaram a viajar ao passado.

Foi um assalto de emoções que me transportou rapidamente à infância, aos torneios de futebol de salão e hóquei em patins, das férias de verão …

O desporto era assim… e pelos vistos o passado reflete-se nos dias de hoje!

Mas, para os céticos que não gostam do passado, impedindo de o usar como exemplo para mudança do futuro, permitam-me, caros leitores, alterar o ditado popular “Águas passadas ajudam a perceber como se moveu o moinho!”

Foi em 2006, diga-se “poucas águas passaram”, num dos Congressos do Desporto organizado pela tutela, numa das minhas intervenções, que afirmei: “…são necessários centros de alto rendimento, com o intuito de desenvolver o desporto em Portugal…”. Em outros congressos de 2008 e 2010, respetivamente em Guimarães e Lisboa, lancei as propostas temáticas com os respetivos temas: “O Desporto é também um projeto social” e “O Desporto Escolar como berço da formação desportiva em Portugal”.

Nestas propostas apontava alguns erros do passado, como o fracasso da Lei de Bases do Desporto, por continuar com uma moldura normativa, que se caracterizava por uma significativa intervenção pública, principalmente no âmbito das federações desportivas e por funcionar como operador do sistema desportivo, ao mesmo tempo que se relacionava com poderes públicos. Não é que alguém se havia esquecido de diferenciar entre modalidades olímpicas e não olímpicas! E o valor do desporto na escola … esse pouco era reconhecido, não descurando as medidas médico-desportivas, bem como a falta de criação de novos centros médico-desportivos que, naquele passado, não eram valorizadas.

Hoje, novamente, sinto a obrigação de refletir sobre aquelas propostas, até porque o desporto tem de ser um compromisso Político e Social, e para que tal aconteça terá que acontecer, no público ou privado, uma reforma estruturante ao serviço das pessoas, baseado num desafio justo para a sociedade, e num projeto sem margem para erros ou suspeições.

Afirmo e secundo o que disse no passado, “…O Desporto Escolar tem de ser o berço do desporto nacional, constituindo-se como alicerce da formação desportiva, assim como o centro por excelência de deteção de talentos desportivos, devido ao seu enquadramento histórico e à sua habitual associação aos campeonatos desportivos; à simplicidade na sua organização; à variedade de modalidades que o compõem e respetivos desafios colocados por cada uma delas; aos profissionais qualificados que o dirigem; ao número de atletas que o compõe e ao número de alunos que reúnem em si características muito diferenciadas, e que através do Desporto Escolar podem encontrar o lazer, o sucesso desportivo, os seus momentos de incitamento, enfim, conhecerem e testarem os seus limites e com isto descobrir e desenvolver novas metas e desafios…”

Apesar de formal e institucional, o Desporto Escolar está longe de o ser. Desde a sua origem, com contornos pouco definidos, quando referenciados nas diversas modalidades que o constituem, até aos dias de hoje, o Desporto Escolar tem sofrido uma contínua evolução, visível a vários níveis. Contudo, nunca lhe deram o devido destaque no Desporto Nacional, pois raramente ocupa um lugar de impacto nos Ensinos Básico e Secundário. Ao longo do tempo foi perdendo a importância e realce no seio da comunidade escolar não sendo tomado em consideração no sistema desportivo nacional.

Bem sei que, nos dias de hoje, as federações já olham o Desporto Escolar como algo apetecível, como um “objeto” premente, que bem utilizado poderá engrossar o número de praticantes de desporto, “número este” deveras importante para aumentar os subsídios provenientes da tutela e dos patrocinadores.

Passam os anos, passa o rio no moinho e a fórmula do regiro ganha em perspicácia!

O desporto é importante, a lei é extensa, o momento é fugaz, o juízo difícil e as sociedades não evoluem ao passo do pensamento… mas talvez com ações!

Neste contexto, podem ser criadas todas as situações favoráveis para desenvolver, generalizar e potenciar o desporto em Portugal, e assim aumentar a nossa dimensão funcional competitiva, recreativa, de lazer e de saúde. Com efeito, não se pode legislar e a seguir não cumprir!

O desporto deverá evoluir com determinação, fiscalização, regulação e solidificando-o. Contudo, é importante minimizar o grau de dependência financeira das organizações desportivas em relação ao poder local e central.

Quem decide necessita com urgência de coragem para interromper este ciclo vicioso, de duplicação dos subsídios ao desporto de formação. Os jovens atletas federados e não federados estão todos na escola. Os recursos humanos com verdadeira creditação académica (os professores de Educação Física e Desporto), e pedagógica pertencem ao Ministério da Educação. A instituição escolar, em particular a rede pública de escolas, é a única que reúne todas estas condições. Então porquê duplicar o subsídio?

Por último um pequeno olhar, não menos importante, para as organizações desportivas. Estas têm de apostar claramente em vencer e progredir neste século XXI, ou seja, de conseguir em tempo útil, uma dinâmica de melhoria qualitativa generalizada do nível do bem-estar das pessoas, ordenamento e rentabilização/eficácia das suas infraestruturas desportivas, melhoria a nível da formação dos seus quadros técnicos e administrativos e, através deles, o permanente aperfeiçoamento da capacidade competitiva das suas organizações.

A mudança de mentalidade leva o seu tempo, mas estou certo de que com o devido esforço irá acontecer…

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.