XLII. DUCHAMP

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É uma obra muito especial na carreira de Marcel Duchamp este “Nu descendo uma Escada”, não o sendo menos para a Arte do Século XX, compreendendo-se o panorama histórico e cultural dentro do qual nasceu e que motivou a sua criação.

Em 1909, alguns artistas italianos, mais propriamente da cidade de Milão, fascinados com o enorme desenvolvimento tecnológico experimentado nos campos da maquinaria industrial, das comunicações e dos transportes, seduzidos pela velocidade artificial que estas tecnologias introduziram no quotidiano das sociedades modernas e, consequentemente, seduzidos pelo movimento produzido nos mecanismos que passavam a regulá-las, declararam-se “futuristas”. O Movimento Futurista, embora não pretendesse renegar o Passado, não admitia que ele dominasse a sua acção cultural – que glorificava o Modernismo – e, antes, queriam exaltar o dinamismo dos novos tempos, tentando captar a visão da velocidade e do movimento através da adopção da sobreposição de diversas imagens simultâneas das coisas que pretendiam representar, como se elas fossem fotogramas. As formas, o Futurismo queria-as angulosas, activas, de linhas fortes.

Por esse mesmo tempo, Picasso e Braque andavam a investigar um método de trabalho que, usando a geometria e o abstracionismo, lhes permitisse representar em duas dimensões – as duas dimensões de uma tela ou de uma folha de papel, altura e comprimento – as diversas tomadas de vista de uma coisa (pessoa ou objecto), colocadas lado a lado e em simultâneo. Eles viriam a demonstrar que a perspectiva e a representação tridimensional não passavam de ilusões, que as relações entre forma e espaço teriam de ser completamente reanalisadas e que isso exigia uma revolução na Arte. Havia nascido o Cubismo.

   Em “Nu descendo uma Escada”, Duchamp retoma o tema clássico do Nu Feminino, mas adoptando o registo futurista aliado ao método cubista: – Capta o movimento em diversas imagens simultâneas, como se fossem fotogramas, as formas são angulosas, activas e de linhas fortes (futurismo); e o método que usa é o dos cubistas, usa a geometria e o abstracionismo, as tomadas de vista do nu em movimento são colocadas lado a lado e em simultâneo numa base plana, bidimensional.

Sabe-se hoje que este quadro de Duchamp gerou grande polémica, pelas melhores e pelas piores razões, inclusivamente os cubistas sentiram-se ofendidos, julgando-o uma sátira à sua proposta estética, enquanto os sectores mais conservadores o achavam uma blasfémia e uma provocação de mau-gosto aos seus princípios académicos.

Na verdade, Marcel Duchamp, cujos primeiros trabalhos (1904-5) mostram alguma influência impressionista, rapidamente faz demonstração da sua personalidade de investigador, ávida de inovação. Em Paris, estuda os primeiros Fauvistas e observa a progressão dos esforços dos Cubistas, enquanto, em simultâneo, começa a interessar-se seriamente pelas máquinas, pelo movimento contínuo, pelos fenómenos da velocidade artificial…  

             N.R. – O Autor não segue as normas 

do novo Acordo Ortográfico.

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