XLIII. LE CORBUSIER

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Charles-Édouard Jeanneret-Gris, nascido suíço, tendo adoptado o pseudónimo Le Corbusier quando foi viver para Paris em 1917, e também a naturalidade francesa em 1930, é considerado um dos mais importantes arquitectos do século XX. Mas, e bom é lembrarmo-nos sempre disso, é igualmente um pintor de génio, um escultor de referência e um urbanista brilhante. Sem atender a todas estas suas facetas, não será possível entendê-lo no conjunto da sua obra. 

A sua formação pessoal e académica e as constantes viagens que fez ao redor do mundo explicam, em grande medida, a sua meteórica carreira. Le Corbusier nasceu na cidade suíça de La Chaux-de-Fonds, no seio de uma família calvinista (protestante), na qual se acentuava o puritanismo e, com este, uma atitude moral e filosófica que favorecia o sentido da dialéctica – que surgiria na sua obra – do diálogo entre a luz e a sombra, entre o vácuo e o material, o opaco e o transparente, o que está em cima e o que está em baixo, etc. Estudou na sua terra-natal, na Escola de Artes de La Chaux-de-Fons. Aqui, com apenas 18 anos, em 1905, projectou a sua primeira casa e, a partir de então, é como projectista que trabalha com afinco. Entretanto vai fazendo as suas primeiras viagens, primeiro por Itália e, depois, para Viena, via Budapeste, aproveitando para recolher muitas ideias que o servirão nos futuros projectos.  

Em 1910, é a Escola de Artes de La Chaux-de-Fonds quem o encarrega de viajar para a Alemanha a fim de estudar Artes Aplicadas, ou seja, as artes decorativas. Ali passará um tempo de estudo e de convívio valiosos, e ali, na Alemanha, a partir de Dresden, em 1911, seguirá para um luminoso périplo (que designou por escrito como “Voyage d`Orient”) por Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste, Veliko Tarnovo, Gabrovo, Kasanlik, Istambul, Monte Athos, Atenas, passando pelo Sul de Itália…

Em 1918, juntamente com Amédée Ozenfant (França, 1886 – 1966), publica a obra “Depois do Cubismo” que vem a ser tomada como a teorizadora do chamado “purismo” como método a adoptar, futuramente, na Arte. Logo no prólogo, eles afirmam que “…empregaremos o termo ‘Purismo’ para exprimir numa palavra ininteligível a característica do espírito moderno…”; e, depois, afirmando também que “…todas as liberdades são admitidas para a arte, excepto a de não ser clara…”, que “…as leis são construções humanas que coincidem com a ordem da natureza…”, e que “…a análise que disseca e retalha, degrada; dissecar é privar-se da visão de conjunto; a arte deve generalizar para alcançar a beleza…” Será legítimo pensar que o Purismo, querendo usar o perspectivismo visual do Cubismo como método de “observação e tomada de vistas” dos modelos, se recusava a aceitar a “dissolução total” (fragmentação) das coisas que pretendia representar, sob pena de destruição da “forma una” (unificadora) e, com isto, arriscar destruir também a manifestação natural da beleza, parte e herança indissociáveis da Grandeza Humana…

Assim sendo, observando esta genial obra de Le Corbusier, a “Natureza-Morta com Numerosos Objectos”, Óleo sobre Tela de 1923, damo-nos conta de que todas as formas dos objectos foram deslocadas e, em parte fragmentadas adoptando-se o método cubista, mas mantendo-os, a todos, reconhecíveis; e que, detalhando cada objecto e o próprio conjunto que eles formam, tanto no seu interior como no seu exterior, dotou a composição de grandes qualidades de luz e de transparência que lhe assinalam uma transcendente harmonia e beleza. E, aos poucos e poucos, garrafas, águas e vinhos, torneiras, dados, o que parecem ser uma espiral de fumo e um espelho vão aparecendo enquanto se manifestam uns nos outros, reflectindo-se e refractando-se, interagindo…até com as nossas imaginação e capacidade de sonhar eles interagem…convocando-nos para a fruição da beleza e da liberdade…como que dentro de um imenso caleidoscópio…  

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