O movimento artístico “De Stijl” (ou seja, em holandês, “O Estilo”) surgiu nos anos 20 do séc. XX do encontro de ideias entre os Pintores Piet Mondrian e Theo Van Doesburg e a formulação dos seguintes princípios: – Em primeiro lugar, os elementos constitutivos das composições deveriam ser os mínimos, bem calculados, quanto às linhas apenas deveriam ser observadas as verticais e as horizontais, nas cores apenas as primárias (vermelho, amarelo e azul) complementadas com as chamadas “não-cores” (branco, cinzentos e preto), cores disseminadas nas superfícies de forma homogénea e mais ou menos intensas em termos de claros/escuros; Em segundo lugar, essas mesmas composições, depuradas, guiadas por tais princípios, deveriam espelhar o máximo de Abstracção possível e realizável não sómente nas Artes Plásticas e na Arquitectura como no Design – e, portanto, na vida do dia-a-dia das pessoas comuns.
Quando Cesar Domela, em 1924, sendo ele igualmente um holandês, se encontra em Paris com Mondrian e Van Doesburg, de imediato adere ao “De Stijl” e, de acordo com os seus princípios, começa a produzir as suas obras a partir de então.
No entanto, a partir de 1929, Domela, que havia já introduzido linhas ortogonais (oblíquas) na sua produção artística e começado a interessar-se pelo conceito de “relevo” (3.ª dimensão), afasta-se cada vez mais do movimento artístico.
Individualiza-se. E cria um novo conceito, o do “quadro-objecto” ou “pintura-escultura” obtida através da união de cores, formas e texturas de materiais tão variados como a madeira, o couro, diversos metais, acrílicos, etc., recortados de tal forma que possibilitassem montagens com grandes requintes geométricos. Apela também ao sentido tacto para que, em aliança com o da visão, produza alto valor sinestésico * aos seus, assim elevados às alturas da poesia, preciosos “relevos”.
Nesta composição de 1936, “Relevo n.º 12A”, Domela estabelece impecáveis linhas de força com a luz e a transparência relacionando-as com a opacidade das cores dos materiais empregues, uns rugosos, outros lisos. Combina elementos semicirculares com outros de linhas triangulares, impõe a dinâmica da curva e da contracurva em disposições oblíquas que projectam o nosso olhar (em fuga e prazer cognitivo) para fora do suporte negro e cinzento que já não o serão símbolos de prisão e trevas mas sim de descolagem a caminho de um mistério maior. E um belo mistério será por certo, desafiante, que nos instigue a usar os sentidos e a imaginação. O carácter de máxima abstracção desta obra obriga-nos a estudá-la de acordo com a Gramática da Arte: a Estética. A não ser assim, triste para todos será por grande perda, apenas “olharemos” para ela sem nunca podermos vir a “vê-la” em todo o seu poder.
* “sinestésico” é relativo a sinestesia… ou seja, “si·nes·te·si·a
(grego sunaísthesis, -eos, sensação simultânea, percepção simultânea)
nome feminino
1. Produção de duas ou mais sensações sob a influência de uma só impressão.
2. [Retórica] Figura de estilo que combina percepções de natureza sensorial distinta (ex.: sorriso amargo).
“sinestesia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/sinestesia [consultado em 01-03-2022].”
N.R. – O Autor não segue as regras do novo Acordo Ortográfico.