O Pintor Kasimir Malevich (Rússia, 1878-1935), na sua corajosa busca de inovação e de corte radical com os cânones artísticos do Passado, havia chegado a bom porto, aí por volta de 1915, quando realizou o célebre quadro “Quadrado Branco” e o apresentou como máximo exemplo do novo Movimento Artístico, o Suprematismo, que assim dava os primeiros passos. O “Quadrado Branco” era exactamente isso em termos de representação pictórica: um quadrado branco sobre um fundo branco, e nas palavras de Malevich, isso era “o pintar de forma pura” e a afirmação d ´”a supremacia do sentimento puro”, tendo conseguido reduzir o tema (abstracto) aos seus elementos mais simples. Procurava-se assim atingir “a essência da Arte”. Por isso, o Suprematismo que viria a influenciar os artistas holandeses do Grupo “De Stijl” e, em seguida, “depois de adormecer” durante décadas, haveria de renascer com grande vigor nos E.U.A. durante os anos 60 e 70, com a designação de Minimalismo ou Arte Minimalista, alimentado por uma maior ânsia de despojamento, de objectividade e de experimentação da “essência abstracta das coisas”.
Malevich e o Suprematismo foram da maior importância para o nascente, seu coetâneo e contemporâneo Grupo Construtivista (Construtivismo) e para os seus principais representantes, friso onde constavam nomes como Naum Gabo, Vladimir Tatlin, Aleksandr Rodchenko e, claro está, o genial Eleazar Lissitzky, agora em apreço (V., p.f., o artigo “XX. Moholy-Nagy” na rúbrica “Amados Quadros” n`”A Aurora do Lima” N.º 30, Ano 167, de 18.08.2022).
Eleazar Lissitzky era engenheiro de formação académica. Pintor de grande talento, brilhante pensador e teórico, estudou Arquitectura que viria a ensinar a valorosas gerações que continuariam o seu legado. Era o mestre predilecto de Moholy-Nagy.
Na sua pintura, Lissitzky recorria a formas abstractas (não-representacionais) que colocava “flutuando” em combinações inesperadas, formas pintadas com cores primárias (vermelho, amarelo e azul) e as “não-cores” (branco, preto e cinzentos). Muitas destas formas abstractas e interligadas são “planas”, outras parecem-nos “tridimensionais”. É evidente que as suas geniais criações são, na realidade, projectos de Arquitectura, de uma Arquitectura impossível para o seu tempo…mas talvez realizável numa Era Tecnológica e num Futuro Civilizacional luminosos, que viriam por aí… E é evidente, também, quando observamos as suas excepcionais obras, que Eleazar Lissitzky dava primazia ao movimento, à dinâmica das máquinas (*), à sua invenção, construção e manutenção… Por isso, estas suas pinturas parecem “faíscar” perante os nossos olhos encantados…e, sem peso nem direcção, simulam um cavalgar trepidante na busca de novas realidades, dentro e fora de nós…
(*) “ Máquina (Lat. machina< Gr. machane), s.f. Aparelho ou instrumento próprio para comunicar movimento ou para aproveitar e pôr em acção um agente natural…” – Dicionário da Língua Portuguesa, Editorial Domingos Barreira, Porto, 4.ª Ed., 1984, págs. 1013, 2.ª coluna.
N.R. – O Autor não segue as normas do novo Acordo Ortográfico.