Esta obra, como muitas outras desenvolvidas sob o mesmo tema, “Cavalos”, granjeou à autora o destaque e a fama, atraíndo para si a máxima atenção do público e da crítica de arte e, sobretudo, passando a significar para todos, artistas, críticos e público, uma viragem abrupta nas páginas da Arte dos anos setenta, primeiro em Nova Iorque onde Susan Rothenberg vivia e labutava, e depois, em todo o hemisfério norte num enorme efeito de cascata.
De facto, na década anterior e nos primeiros anos da década de setenta, tinha imperado o Minimalismo mais puro e duro e as artes conceptuais “sem futuro nem mercado”, assim como as “performances” e as “instalações”. A Arte vivia de costas viradas para os mercados de arte num empenho insano de “desconstrução cultural” e de panfletarismo ideológico. E Susan Rothenberg, excelente observadora dos quotidianos porque excelente desenhadora, pintora sensível e introspectiva com sólida formação no campo da Abstracção, que não descurava os assumidos princípios do Minimalismo mas que não concebia o seu trabalho sem a capacidade de criar para além das balizas programáticas, sabia (no seu íntimo “sabia”) que podia construir uma ponte entre a abstracção e a figuração, fazendo com que esta ressurgisse num outro nível sem que se descurasse uma nem outra e logo se abrisse uma nova frente na Pintura Ocidental (Sobre a abstracção, v., p.f., o artigo “XVI. Dominguez”, na rúbrica “Amados Quadros” d`”A Aurora do Lima” N.º 22, Ano 167, de 16.06.2022).
Assim sendo, quando Rothenberg, no ano de 1975, apresentou a sua primeira exposição individual na “112 Greene Street Gallery” de Nova Iorque, terá criado um certo escândalo de saudável clivagem, aliás muito saudado pela Crítica de Arte, porque mostrando estes inovadores trabalhos, “Cavalos”, reintroduzia figuração no seio da abstracção minimalista, reforçava a sensibilidade para os temas e a expressão plástica aplicada em telas de grandes dimensões e de grande efeito cénico. A Crítica e os artistas aplaudiram de pé, o quase moribundo mercado de Arte de Nova Iorque, um dos maiores senão mesmo o maior, também. Como é evidente.
Observando melhor este “Dois Tons”, uma das obras presentes naquela exposição: – A uma razoável distância, os contornos acinzentados da silhueta de um cavalo, aparecem-nos evidentes nas duas metades da tela, contrastantes, uma de tons esbranquiçados e a outra de um tom mais escuro, Este foi e é um daqueles momentos muito especiais do Séc. XX. Como num respirar fundo quando se volta à superfície da água, os artistas renovaram os seus votos e as suas demandas, a partir deste momento.
N.R. – O Autor não segue as normas do novo Acordo Ortográfico.