XXVII. OROZCO

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Américo Carneiro

Corria o ano de 1930 quando Orozco deu início a este fresco de grandes dimensões (tem de largura 4, 24m e de altura 1, 96m), no edifício da “New School for Social Research” de Nova Iorque. Desde 1917 que Orozco vinha realizando obras grandiosas nos Estados Unidos, em vários edifícios públicos, actividade que regularmente levou a cabo nesse país até 1934. A “New School for Social Research”, que muito recentemente havia aberto as suas portas, era um instituto académico de estudos socialistas, empenhado em travar o belicismo e os totalitarismos que incendiavam o mundo de então e os seus integrantes viam com muita apreensão a total inoperância e a impotência da “Liga das Nações”, antecessora da chamada “Organização das Nações Unidas” (O.N.U).

Tudo nesta “Mesa da Irmandade Universal” parece conveniente à construção de uma metáfora ilustrando a situação que se vivia nesse momento histórico à “volta da mesa” dessa inapta “Liga das Nações”: – Uma mesa descomunal ocupa o centro da composição e parece querer esmagar os homens que, de todos os continentes, vieram para conferenciar, não obstante se mostrarem absortos, mudos, incomunicáveis. E a mesa, que parece ser o símbolo da formalidade vazia de sentido, deserta de projectos e de moções a aprovar, é um monstro quadrado – com suas arestas de separação e corte entre facções, contrárias às linhas redondas que sinalizariam a união dos povos, uma “távola redonda”, por assim dizer -, um monstro quadrado incapaz de inspirar qualquer calor humano, esta mesa é inútil e impositiva, é a imagem perfeita do vácuo, não fosse a circunstância de servir de suporte a um enigmático livro aberto, com as páginas em branco como que aguardando que neles comece a escrever-se, finalmente, a História da Humanidade…

José Clemente Orozco foi um pintor muito marcado pelo Simbolismo, um dos que, com David Siqueros e Diego Rivera, deu início ao heróico Movimento do Muralismo Mexicano. Como sabemos, o Muralismo empenhou-se em trazer a Arte para a Rua, realizando-a em espaços e edifícios públicos para fruição de todos, em grandes frescos inspirados no Realismo Socialista, onde se podiam espraiar os anseios populares moderados pelas ideologias revolucionárias, reviver a História e a Cultura dos Povos Colonizados e, sobretudo, dignificar o Mesticismo, triunfante fusão dos sangues e heranças culturais dos oprimidos e dos seus opressores (V., p.f., o artigo “XIV. Rivera” na rúbrica “Amados Quadros” d`”A Aurora do Lima” N. 18, Ano 167, de 19/05/2022).

Parece-me estar bem patente nas suas obras que, dos três grandes Muralistas mexicanos, foi Orozco o que mais poderosamente dotou os seus personagens com esse seu carácter simbolista que o ergueu como Artista, moldando-os com fortes temperamento, subjectividade, solenidade e um certo ar místico insondável, nocturno e carregado de mistério…

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