XXXIII. BRAQUE Georges Braque (França, 1882 – 1963) – “Composição com o Ás de Paus”, Óleo sobre Tela, Ano de 1913

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Américo Carneiro

O seu a seu dono: não tivesse surgido um Paul Cézanne (França, 1839 – 1906), com a sua revolucionária Pintura – que era feita de memória, ignorando os modelos e a necessidade de almejar reproduções fiéis nos temas – e a Arte Moderna com seus derivados movimentos cubista e abstraccionista não teriam conhecido o como, o quando, o quem e o porquê que hoje lhes conhecemos.

Basta atentar na genial obra de Cézanne, “As Grandes Banhistas”, concluída em 1905, um ano antes da sua morte, para melhor entender a pertinácia das primeiras palavras deste artigo – Um grupo de mulheres, nuas, repousa por entre árvores na margem de um rio ou de um lago. Os seus corpos, estranhamente distorcidos, fundem-se uns nos outros e na paisagem em seu redor num movimento que tudo engloba, expresso por linhas simples, geométricas e estilizadas, sem excessos em termos cromáticos, atendendo apenas ao que é essencial e levando ao extremo a simplicidade formal. Nos últimos anos da sua vida, Cézanne foi tido como um “pai da modernidade” e uma apetecida influência para os jovens artistas do princípio do século XX; e as suas obras viriam a tornar-se numa espécie de culto e em objectos de “peregrinação”, inspirando artistas como Matisse, Gauguin, Picasso (V., p.f., o artigo “VIII. Picasso”, na rúbrica “Amados Quadros” d`”A Aurora do Lima” N.º 5, Ano 167, de 27.01.2022).

A fim de poderem adequar os modelos às superfícies planas, bidimensionais, das telas onde eram representados, Georges Braque e Pablo Picasso começaram a desenvolver estudos e experiências no âmbito da geometrização das figuras e, em 1907, um ano após a morte de Cézanne, é apresentada ao público a obra “Les Demoiselles d`Avignon” de Pablo Picasso, considerada a primeira obra cubista da História da Arte. Tem-se conhecido como correcta a divisão do Cubismo em duas fases históricas:- A primeira, a do Cubismo Analítico, que vai de 1907 até 1912, com obras onde as composições se constroem com grande “distorção” conseguida através da radical geometrização das figuras humanas e da Natureza, o que conduzia à (quase) impossibilidade da sua identificação, e ainda à “pobreza” cromática que as caracterizava, com a utilização de cores neutras, “pardas”, e as “não-cores” como os cinzentos, o branco e o negro; e a segunda fase, a do Cubismo Sintético, que se segue de 1913 em diante e durante a qual se verifica uma maior facilidade na interpretação dos temas das composições, sendo estas mais coloridas e com maior aproximação à realidade, com a figura humana “mais legível” – mesmo que só parcialmente – e certos objectos da realidade bem evidentes no meio da profusão de formas geométricas, por vezes, curiosamente, socorrendo-se dos processos de colagem (recortes de jornais, de madeiras, cordas, areia, etc.) e que passarão a tornar habitual a coexistência da Pintura e do Desenho no âmbito da criação artística.

Como podemos observar na “Composição com o Ás de Paus” de Georges Braque, realizada no ano de 1913, com as suas cartas de jogar, as letras de imprensa, o cacho de uvas, a gaveta e demais peças pintadas de forma a serem reconhecidas como “de madeira”, da mesma madeira do topo redondo da mesa posto de frente na tela, esta genial obra cubista não só ilustra na perfeição o início da segunda fase do Cubismo, o Cubismo Sintético, como o que de melhor foi produzido pelo grande Pintor francês.

N.R. – O Autor não segue as normas do novo Acordo Ortográfico.

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