XXXVIII. Ainda MATISSE Henri Matisse (França, 1869 – 1954) 

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Américo Carneiro

 

Foi tão grande o impacto e tão revelador foi ele da novidade genial que a “Dança II” trazia e provocava em Sergei Schukin, o amigo mecenas e colecionador de arte russo que a encomendara a Henri Matisse, que ele não resistiu a fazer uma imediata encomenda para uma obra que pudesse fazer par com “Dança II”. 

Com as mesmas dimensões, as mesmas personagens e a mesma gama cromática, viria a designar-se “Música” e emparelha, hoje, no Museu Ermitage de São Petersburgo, com “Dança II”.

Vistas lado a lado é que compreendemos claramente a ideia, que é abrangente e majestosa, e que preside à sua dialéctica universalista. Ficamos imersos num estado quase ascético, de observação da Plenitude Humana, induzida pela Inspiração e pela Criatividade… em Liberdade!… Em “Música”, Henri Matisse, usando as mesmas dimensões da “Dança II”, coloca as mesmas personagens no centro da mesma harmonia, contrastante de vermelho, azul e verde, naquelas linhas muito simplificadas que ligam cantoras e músicos (um músico e uma música) de novo em cadeia humana e em total ligação com a Terra e o Céu numa visão de sempiterno equilíbrio.

Só que, agora, músicos e cantores não se dão as mãos e a força da gravidade manifesta-se claramente na composição. Assim é necessário, para que cada um se concentre no papel que a cada um pertence, se afunde na terra com o espírito posto no céu e tome consciência do peso dos seus corpos e dos seus esforços para quebrar as barreiras das “impossibilidades” humanas. A união estreita entre estes seres eleitos (“simplesmente” humanos) faz-se pela presença invisível da Música, a mais abstracta das Artes. Pura e simplesmente, ela está lá, manifestando-se nas bocas das cantoras e no tanger do violino e da flauta.

E como a obra “ Dança II” se abraça estreitamente à obra “Música”, lado a lado, é bem possível que uma forneça as harmonias que inspiram as danças da outra, também o inverso será plausível e que os músicos se inspirem nas danças da anterior…já que, afinal de contas, se trata dos mesmos seres em planos separados…

Tal como num belo dia de 1905, os pescadores e suas famílias, numa praia da França Mediterrânica, dançando danças de roda (“Sardanas”), terão inspirado com ternura o Pintor Henri Matisse…

Em 1904, expondo Henri Matisse no “Salon de Paris” com o seu grupo de pintores independentes, foi considerado “o líder de um movimento de Fauves” (“fauves” = “feras”), por entre escândalo e estupefacção do público e dos críticos de arte. Pois assim reagia um “crítico”, desarmado pela incapacidade para escolher palavras que pudessem expressar a incompreensão de tantas novidades em Arte: – Cores contrastantes e fortes, pinceladas furiosas, apaixonadas, de grande vigor, e temas muito emotivos, enérgicos, evocativos de mundos alternativos e “abstractos”.

Assim era o mundo “das feras” (“des fauves”). Assim viemos a herdar, para grande alegria nossa, o mundo da “Selvajaria” (“Fauvisme”). E um novo patamar na compreensão das coisas.

   N.R. – O Autor não segue as normas do novo Acordo Ortográfico.

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