“Ainda bem que a esperança é a última a morrer”

Natacha Cabral
Natacha Cabral

Somos poucos, e andamos disfarçados por entre as massas, ainda assim, alegra-me saber que existimos.

Todo o mundo sabe que gestos de altruísmo, compaixão e bondade são uma coisa rara, mas aquilo sobre o qual nos deveríamos realmente questionar nada tem a ver com a sua rareza, mas sim, o seu porquê.

Não somos diferentes, nem mais nem menos que os outros. A única coisa que nos distingue dos demais é a nossa sensibilidade e a nossa capacidade de estarmos despertos.

Da mesma forma, não creio ser missão impossível nem tão pouco missão restrita a um certo grupo de pessoas, pois quer queiramos quer não, a mudança está disponível para todos, mas nem todos a querem.

Encontro-me neste momento a fazer as malas para partir rumo a outro lugar, mas enquanto as faço não consigo deixar de pensar numa coisa face àquilo que assisti hoje num autocarro ao ver uma jovem ofertar ajuda a uma idosa muito prontamente – a esperança de um mundo melhor está nas mãos de todos nós, mas seguramente começa nos mais jovens.

Entender a urgência que é a mudança de postura, torna-se crucial em idades tenras. Se os educadores falharem na transmissão de bons valores aos seus educandos, seja nas suas casas ou nos lugares comuns, podemos então considerarmo-nos, desde já, condenados.

Olho para um lado, e fala-se em guerras e em domínio massivo. Olho para o outro, e fala-se em construir grandes impérios e reputações. Depois olho em frente, e vejo poucos verdadeiramente acordados. Mas ainda assim, vejo esperança no olhar de alguns. Somos raros e mal compreendidos, mas somos e existimos, e a nossa missão é ajudar a acordar os adormecidos. Afinal, não será a nossa passagem pela terra um meio de facilitar a vida uns dos outros?

Umas vezes respondo a esta questão afirmativamente. Outras, duvido inseguramente. Mas, ainda bem que existimos.

Por favor, leitores, não me interpretem mal quando vos falo em missão terrestre – ninguém aqui se pretende fazer passar por algum tipo de messias ou de profeta eterno, contudo, todos os pequenos gestos de bondade e compaixão abrem não só, o caminho a um mundo melhor, como também o caminho para o amor adormecido nos nossos corações.

Falo-vos desde as coisas simples, às coisas mais exigentes como, ceder o lugar a um idoso, abraçar aquele que chora, carregar o saco que pesa, doar sem esperar receber, elogiar sem intenção escondida nem justificativa expectável, ouvir silenciosa e atenciosamente, isentar o julgamento barato, e por aí a fora. A lista é extensa, assim como a nossa criatividade.

No final, acho que era importante deixar aqui bem explícito um pensar: não são os outros que podiam, mas somos nós que podemos. Ninguém vive no passado nem no futuro, pois só é possível viver de verdade no presente.

Um pouco como refere uma campanha promocional muito conhecida por entre nós, também eu aceno: “se eu não gostar de mim, quem gostará?”, que é o mesmo que dizer, “se eu não gostar do próximo, quem de mim gostará?”

Em jeito de término, gostaria de lhe lançar um desafio mental: preferia partir deste mundo com os bolsos cheios e fartos, mas com a consciência pesada, ou preferia partir com os bolsos disponíveis e com a consciência leve? A verdade, é que poucos chorarão as suas riquezas, todavia, muitos chorarão o seu bom caráter.

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