“Não há lugares perfeitos. Apenas momentos”

Natacha Cabral
Natacha Cabral

Caros leitores, tenho muitas poucas coisas com que me orgulhar nesta minha efémera passagem por cá. Não sou diferente de ninguém, nem tão pouco pretendo colecionar medalhas de orgulho, porém, há algo que jamais me poderá ser retirado – a coleção de memórias e momentos por onde passo.

Sim, é verdade, não há lugares perfeitos no mundo, e desde já lamento dececionar alguém ao desmistificar a ideia de perfeição, mas nunca fui muito fã de mentiras.  O mundo é um lugar puramente e honestamente imperfeito, e talvez assim mesmo deva ser. Afinal, também nós somos criaturas imperfeitas, com a sorte de podermos apreciar da única perfeição que já existe: a natureza.

Não conheço, nem nunca conheci ninguém, por todos os lugares por onde passei e vivi, que me diga ter uma vida perfeita. Há sempre um senão. Há sempre uma pedrinha no sapato a criar impasse no nosso caminhar. Há sempre um dia que chove quando saímos de sandálias à rua. Há sempre uma politiquice que não nos satisfaz. Há sempre, qualquer coisa. Mas também há o poder de desligarmos a máquina que pensa e de ligarmos o aparelho que sente. Não só isso nos possibilita um menor dispêndio energético, como nos permite saborear as coisas boas do presente, estejamos onde estivermos. Alguém uma vez disse que as melhores coisas da vida não são coisas, são momentos. Daí que, creio, ninguém deveria perder tempo a colecionar coisas, mas sim memórias e sensações, sorrisos, gestos, amizades, aprendizagens.

Todo o lugar tem o seu “e” de especial, sejam as pessoas, a cultura, as diversões, as paisagens, do mesmo modo que tem o reverso da moeda. Não há um país perfeito, pessoas perfeitas, sistemas perfeitos. O planeta é um lugar que opera entre o caos e a ordem, e nós por cá andamos, de modo a nos encaixarmos da melhor forma aqui, ou ali.

De que adianta queixar-me do calor extremo do Dubai se na Rússia faz um frio gélido? De que adianta não gostar de fado se demasiado forró me incomoda? De que adianta criticar a democracia portuguesa se na Coreia ainda se vive a ditadura? De que adianta reclamar do que quer que seja se não consigo ver a beleza daquilo que já existe bem na minha frente? É isso: não adianta. No fundo de tudo, acredito que haverá um lugar perfeito para si e para mim, com mais ou menos pedras, com mais ou menos sol. O importante é ousar ir, em vez de indagar.

Se há algo que vos posso aconselhar nesta minha curta experiência de vida, é que viagem. Saiam do lugar de conforto, pois há muito para além dos muros para descobrir, felizmente.

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