Saúde Mental e Pandemia: desafios

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Mens sana in corpore sano. Esta expressão idiomática latina evidencia que, já há séculos, se constatava que o bem-estar do ser humano está igualmente subordinado à saúde corporal física e à saúde mental. A indissociabilidade destas é evidenciada pelos impactos marcados da pandemia de COVID-19 em ambas. Se o impacto médico da situação pandémica atual terá aumentado o valor que damos à saúde orgânica, é importante que o mesmo ocorra quanto à saúde mental.

Os períodos prolongados de confinamento, embora medidas de Saúde Pública absolutamente cruciais para travar a propagação da doença para níveis insustentáveis, e positivos para o cômputo geral da saúde da população, podem levar ao aparecimento de sintomatologia psiquiátrica variada. Efetivamente, poderá levar a um aumento significativo de sintomas ansiosos e depressivos na população geral, assim como a um agravamento dos mesmos sintomas em doentes com patologia psiquiátrica prévia. Importa estar-se atento aos mesmos de modo a prevenir o desenvolvimento ou agravamento de doença mental (da doença depressiva a perturbações de stress pós-traumático).

Por outro lado, a sobrecarga constatada, nas últimas semanas, sobre os serviços de saúde a nível nacional levará, provavelmente, ao incremento de situações de burnout, uma situação definida, de acordo com a Organização Mundial de Saúde como “uma síndrome resultante de stress crónico no trabalho que não foi gerido com êxito”. Estas podem levar ao desenvolvimento futuro de perturbações depressivas, de ansiedade ou outras. Como tal, importa estar-se atento ao desenvolvimento deste tipo de quadros em profissionais de saúde que tenham estado na linha da frente e manterem-se os cuidados devidos para se evitar a disseminação da doença, por forma a evitar novos picos de contagiosidade.

Outro assunto com potencial impacto importante a nível psiquiátrico serão as perdas a nível económico. De facto, o declínio na atividade de vários setores económicos, ou mesmo a sua paragem total levará a perdas financeiras e de emprego para muitos. Isto poderá levar a uma maior fragilidade psicológica das mesmas e, tal como nas situações anteriores, ao surgimento de novos sintomas psiquiátricos e/ou ao seu agravamento.

Por último, a pandemia traz efeitos marcados a nível da saúde física. Sendo esta inseparável da saúde mental, deduz-se que os indivíduos que contraiam a doença tenham maior fragilidade a nível psiquiátrico, especialmente se forem gravemente afetados por esta ou desenvolvam sequelas. A isto acresce a afeção de pessoas próximas, situação geradora de ansiedade e trauma. Assim, uma grande fatia da população poderá vir a ter uma maior propensão a desenvolver patologia de saúde mental.

Em suma, embora devamos tomar todos os cuidados possíveis para mitigar, ao máximo, o atingimento da saúde física da população, não se devem menosprezar os efeitos a nível da saúde mental por parte da Covid-19. Efetivamente, não só durante este período de pandemia, mas mesmo depois de este terminar, é fundamental estarmos atentos à nossa saúde mental e à saúde mental dos que nos rodeiam, e sensibilizar todos para esta matéria, de modo a se evitar uma eventual onda de patologia mental.

Alexandre Silva

Aluno de medicina HSJ

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